Após 21 anos de estudo, em uma iniciativa pioneira no mundo, no dia 23 de julho de 2020, foi lançada a tecnologia Embrapa de Bioanálise de Solo BioAS, visando a agregar o componente biológico nas análises de rotina de solos (Figura 1). A BioAS tem como base a análise da atividade das enzimas arilsulfatase e β-glicosidase, associadas aos ciclos do enxofre e do carbono, respectivamente. Por estarem relacionadas ao potencial produtivo e à sustentabilidade do uso do solo, elas funcionam como bioindicadores, permitindo avaliar a saúde dos solos. As pesquisas desenvolvidas pela Embrapa permitiram estabelecer valores de referência para essas enzimas em diferentes solos, de modo a avaliar o estado do funcionamento biológico do solo. Valores elevados de atividade enzimática indicam sistemas de produção e/ou práticas de manejo do solo adequadas e sustentáveis. Ao contrário, valores baixos servem de alerta ao agricultor para uma reavaliação do sistema de produção na direção da adoção de boas práticas de manejo.
Figura 1. A Tecnologia Embrapa de Bioanálise de Solo (BioAS), que consiste na agregação de dois indicadores relacionados ao funcionamento da maquinaria biológica do solo (enzimas arilsulfatase e β-glicosidase) às análises de rotina, preencheu a lacuna deixada pela ausência do componente biológico nas análises de solo. (Cap. ret H2O – capacidade de retenção de água no solo).
Foto: Fabiano Bastos
A BioAS pode ser comparada um exame de sangue, que permite detectar problemas assintomáticos de saúde do solo, antes que eles resultem em perdas no rendimento das lavouras. A grande vantagem da BioAS é que as enzimas são mais sensíveis que indicadores químicos e físicos e antecipam alterações na saúde do solo, em função de seu uso e manejo. Assim, a BioAS pode auxiliar nas tomadas de decisões relacionadas aos sistemas de manejo adotados nas propriedades agrícolas. No seu estágio atual, a tecnologia está formatada para áreas sob cultivos anuais no bioma Cerrado e no sul do Brasil.
Uma inovação importante atrelada ao uso da BioAS é o cálculo de índices para avaliar a qualidade dos solos (IQS).
IQSbiológico – Índice de qualidade biológica;
IQSquímico – Índice de qualidade química;
IQSFertBio – Índice de qualidade do solo (IQSbiológico + IQSquímico).
Figura 2. Representação esquemática do modelo utilizado para o cálculo do IQSFERTBIO, IQSBIOLÓGICO e IQSQUIMICO.
Os cálculos dos IQS da tecnologia BioAS (IQSFERTBIO, IQSQUIMICO e IQSBIOLÓGICO) levam em consideração a capacidade do solo funcionar para prestar três importantes funções relacionadas à sua capacidade de promover a nutrição das plantas: (F1) capacidade do solo ciclar nutrientes; (F2) capacidade do solo armazenar nutrientes; e (F3) capacidade do solo suprir nutrientes (Mendes et al., 2021). Como os IQS, os escores das funções variam de 0 a 1, sendo quanto mais próximo de 1 melhor o desempenho da função (índices das funções F1, F2 e F3). Semelhante à estratégia utilizada para interpretar os valores de atividade enzimática, todos os IQS e os escores das três funções são calibrados em relação ao rendimento de grãos e a MOS (Mendes et al., 2021).
Por inaugurar uma forma mais abrangente de interpretação da saúde dos solos, indo além das questões de deficiência/excesso de nutrientes, o lançamento da BioAS foi um sucesso e tem tido uma grande repercussão no agro brasileiro. Considerada a mais nova aliada para a sustentabilidade da agricultura brasileira, a BioAS é uma iniciativa inovadora que credencia o Brasil como embaixador mundial da saúde do solo.